domingo, 29 de junho de 2008

Legitimação Metodológica




Legitimação Metodológica


Validade semântica da investigação (representatividade, relevância e plausibilidade de dados) Erickson (1986) identifica três aspectos a ter em consideração no desenvolvimento das investigações qualitativas:
- identificar as diferentes estruturas e perspectivas de significação;
- delimitar as redundâncias nos diferentes contextos;
- prestar atenção aos sucessos que vão ocorrendo.
Na sequência da argumentação de Erickson, importa verificar as razões porque as investigações qualitativas podem falhar:
- apresentação de uma quantidade inadequada de dados (existência de poucas evidências que possam justificar outras afirmações e conclusões);
- apresentação de uma variedade inadequada de dados (inexistência de evidências que percorram diferentes tipos de fontes de modo a assegurar o cruzamento de dados);
- interpretação defeituosa das evidências (falhas na compreensão dos pontos – chave da complexidade da acção);
- evidências inadequadas de testagem (carência de dados que possam testar as conclusões);
- análise inadequada dos casos discrepantes (falhas no controlo dos exemplos discrepantes).
Assim sendo, importa destacar três condições básicas em ordem ao bom desenvolvimento de uma investigação qualitativa:
- ampliar ao máximo o contexto de análise de modo a poder integrar na situação analisada tantas variáveis, factores ou personagens, quantas possam ajudar-nos a entender a realidade analisada, no caso concreto do estudo do pensamento dos professores, os diários devem complementar-se com entrevistas, gravações de aulas e observações. O que no diário é intencionalmente uma perspectiva do observador e à do analista dos documentos.
- descrever o próprio processo seguido na obtenção e análise da informação. O investigador deverá informar como delineou e desenvolveu cada um dos passos da sua investigação de modo a que esta possa ser replicada noutros contextos;
- configurar a investigação como um autêntico processo de busca deliberativa. O processo de tomar decisões (anotar este ou aquele aspecto observado, atribuir ou não relevância a uma determinada dimensão de um texto) que decorra ao longo da investigação deve estar presente no relatório final.
Validade hermenêutica da investigação
(Fundamentação teórica da investigação e das análises e interpretações que inclui)
Enquanto explicitação de significados, a investigação qualitativa baseia-se fundamentalmente em interpretações ou, pelo menos, socorre-se delas para dar sentido aos dados e às informações.
Neste sentido, a hermenêutica descreve três componentes configuradoras do processo de compreensão de um evento – a estrutura de conceitos a partir da qual se aborda o facto, a compreensão e a interpretação (pre-understanding, understanding and interpretation)
O conceito do “círculo hermenêutico” exprime a relação dialéctica entre aquilo que o intérprete já sabe e aquilo que é capaz de reconhecer no facto analisado, não se pode compreender sem uma bagagem prévia de preconcepções, nem à margem do equipamento interpretativo de quem interpreta.
O que o investigador já conhece funciona como uma estrutura, como um padrão geral no interior do qual a nova situação ou a nova informação podem ser entendidas.
Por sua vez, a estrutura de significações prévias não constitui uma barreira inflexível, tratando-se de um conjunto de componentes cognitivas e experiências que vão alterando os seus conteúdos e filtros analíticos devido à interacção com cada novo processo de conhecimento e interpretação.
O modelo reflexivo apoia-se em esquemas de organização do campo que orientam e balizam teoricamente o trabalho do investigador.
O processo de investigação adquire, assim, uma sintaxe de desenvolvimento em espiral:
- começa-se com visões gerais da situação e dos seus contextos;
- passa-se a aspectos concretos e relevantes sob o ponto de vista dos objectivos e do quadro teórico da investigação;
- regressa-se às visões gerais que actuam como contexto de significação e de contraste das análises geradas no níveis mais específicos ou sectoriais.
Validade pragmática
(Dinâmica relacional da investigação)
A nível pragmático, importa ter em consideração:
- o processo de negociação prévia com os participantes na situação a estudar e a explicitação que se deve fazer dos objectivos do trabalho;
Na investigação educativa, poderemos considerar cinco tipos de audiências:
-a dos cientistas ou investigadores (os especialistas);
-a das administrações educacionais e/ou instâncias de decisão;
-a dos profissionais da educação;
-a do público em geral;
-a dos participantes no próprio processo de investigação.
Cada modelo de investigação concede maior ou menos relevância a uma ou outra das referidas audiências e dirige-se explícita ou implicitamente a ela, através da utilização de um ou outro tipo de linguagem, da apresentação dos factos ou das conclusões a um nível de complexidade ou a outro, conferindo uma orientação para a utilidade prática ou uma orientação para o estabelecimento de evidências básicas.
Assim sendo, o tipo de audiência a que investigação se dirige preferencialmente, condiciona o “estilo”, a orientação adoptada e a forma como se tornam públicos os resultados.
- A estrutura relacional entre investigadores e actores da situação estudada.
Da dupla estrutura relacional apresentada por Watzlawick (1981) – relação simétrica versus relação complementar – o investigador recorre, por vezes, à primeira, ainda que seja difícil e pouco realista: trabalharem no mesmo plano acaba por constituir-se em igualdade fictícia, e, muito frequentemente, à segunda – cada um participa na investigação a partir de posições distintas que se complementam: o profissional da prática e o especialista em estratégias de investigação, cada qual com o seu estatuto. Nenhum poderá levar a cabo o trabalho sozinho: o professor porque lhe falta “perspectiva de distanciamento” relativamente ao que deseja analisar, e, muitas vezes, carece de técnicas e de experiência na recolha e descodificação da informação; o investigador porque, tratando-se de captar significados e vínculos entre componentes objectivas e subjectivas das situações, nada poderá fazer para penetrar por sua nesse mundo.
Assim sendo, a criação de um contexto de colaboração é o melhor recurso para integração de perspectivas e complementares das situações.

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