domingo, 29 de junho de 2008

A investigação – acção como estratégia de formação inicial de professores reflexivos




A investigação – acção como estratégia de formação inicial de professores reflexivos


Por investigação – acção, tal como foi definida por Kemmis (1986, 1988, 1989), entende-se “a forma de questionamento auto-reflexivo levado a cabo por participantes em situações sociais, (incluindo as situações educativas), a fim de melhorar a racionalidade e a justiça de:
- as suas práticas sociais ou educativas;
- a sua compreensão dessas práticas;
- as situações institucionais em que essas práticas se inserem.
Por sua vez, Elliott (1991) considera a investigação – acção como um tipo de investigação bastante amplo, que deve ser controlado pelo professor e cujo critério principal é o estudo de problemas práticos, com vista à obtenção de resultados, também eles práticos – estudo de uma situação social com vista a melhorar a sua qualidade.
Também Ebbutt (1985) salienta o carácter interventivo e reflexivo da investigação – acção, ao defini-la enquanto estudo sistemático de tentativas de mudar e melhorar a prática educativa, levada a cabo por grupos de participantes, através da sua prática e da sua reflexão sobre os efeitos dessa acção.
Da explicitação da sua natureza, sobressai a ideia de qualquer projecto que pretenda constituir-se como investigação – acção tem de incluir as seguintes características: reflexão, sistematicidade e intervenção, e satisfazer os seguintes critérios: incidir sobre uma prática social, ser situacional, colaborativo, participado, auto-avaliativo e orientado por um interesse emancipatório.
Partindo do pressuposto de que, pela via do desenvolvimento das capacidades investigativas dos professores, se constrói um percurso de formação autónoma e reflexiva, somos de opinião de que, na formação de professores, se deve privilegiar a mobilização dos formandos na responsabilização pelo seu processo de desenvolvimento e aprendizagem, em interacção reflexiva com a acção e em diálogo actuante com os outros e com as suas potencialidades.
Uma abordagem reflexiva valoriza a construção pessoal do conhecimento e legitima o valor epistemológico da prática profissional, surgindo a prática como elemento de análise e reflexão do professor, valorizada enquanto fonte de conhecimento, através da experimentação e reflexão, como momento privilegiado de integração de competências, como oportunidade para representar mentalmente a qualidade do produto final e apreciar a própria capacidade de agi.
Assim sendo, uma formação reflexiva assenta numa relação de formação de tipo colaborativo e de questionamento sistemático da acção – os formandos vão caminhando na direcção de uma autonomização progressiva e de uma maior responsabilização pela sua acção.
Neste contexto, a investigação surge como parte integrante do trabalho profissional do professor, uma vez que inclui a reflexão crítica sobre a profissão, com o objectivo de melhorar.
A investigação – acção integra-se, por assim dizer, na prática quotidiana dos professores e, ao mesmo tempo, distingue-se dela. Integra-se porque combina o processo investigativo com a prática do ensino – não é tanto uma questão de aplicar a investigação – acção ao ensino mas sim de ver o próprio ensino como uma forma de questionamento e experimentação, resultando daí um melhor foco de interesse do professor, de mudanças no seu pensamento e na natureza do seu discurso, e uma postura reflexiva face à sua profissão. Todavia, distingue-se da prática quotidiana do professor reflexivo por ser uma actividade mais cuidada, mais rigorosa, mais sistemática, com o mesmo foco de atenção ao longo de um determinado período de tempo e conducente a resultados práticos, aplicáveis no contexto de actuação do professor.

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